TEORIA DA LITERATURA: A NARRATIVA
A abertura de "Memórias Sentimentais de João Miramar" de Oswald de Andrade se faz com um texto, cujo título é À Guisa do Prefácio. Relacionando prefácio e obra, assinale a alternativa INCORRETA:
O prefácio modela o romance, segundo os padrões reinantes na prosa acadêmica brasileira.
O prefácio revela o romance como renovação da prosa literária brasileira através de um estilo fragmentário e sintético.
O autor do romance, João Miramar-Oswald, intensifica a crítica à literatura beletrista, já anunciada nas entrelinhas do prefácio.
O pseudo-autor do prefácio, Machado Penumbra, converte-se em personagem, adentrando o romance como "orador ilustre escritor".
O estilo do prefácio é empolado e recheado de clichês, contrastando com o estilo do resto do romance.
Leia o conto a seguir:
Uma Galinha
Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Com base nos elementos estruturais do conto, analise as afirmações que seguem:
I- Apresentação: “Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã”.
II- Complicação: a fuga, a perseguição e o ato de pôr e chocar o ovo.
III- Clímax: momento da decisão de não matar a galinha.
IV- Desfecho: “Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar”
Estão CORRETAS as divisões em:
I, II, III.
I, II, III, IV.
I, II, IV.
II, III, IV.
I, III, IV.
Leia o texto a seguir:
Poema tirado de uma notícia de jornal
Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Com base na leitura do texto, analise as afirmações que seguem:
I- É um poema narrativo, em que o eu lírico se transforma em uma informação jornalística e rotineira de suicídio.
II- A narração em 3ª pessoa é neutra, imparcial e objetiva confrontando a linguagem poética (versos, ritmos poéticos e musicalidade) com o tom prosaico - uma paródia da linguagem jornalística, denunciando o destino violento de pessoas simples.
III- É uma notícia jornalística, sobre um suicídio na Lagoa Rodrigo de Freitas, publicada no jornal O Dia, do Rio de Janeiro.
IV- O personagem João Gostoso não possui características precisas: sem nome próprio (representa uma alegoria de muitos brasileiros que vivem na marginalidade das grandes cidades brasileiras. “Gostoso” é provavelmente, uma alcunha); sem moradia fixa (“morava no morro da Babilônia num barraco sem número”) e sem emprego definido (“carregador de feira livre”) cumpre seu destino para a morte e transforma-se num anonimato de ocorrência policial, virada do avesso pela indeterminação.
V- A espacialização do poema inicialmente se dá com indeterminação: barraco sem número, no entanto, no morro da Babilônia que pode referir-se ao substantivo, “babilônia” (baderna, a falta de organização) ou ao alto espaço da miséria anônima e até, ironicamente ao famoso Jardim Suspenso.
São CORRETAS as afirmações contidas em:
I, II, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, III, V.
II, III, IV, V.
I, III, IV,V.
Com base na leitura do conto O tesouro, de Eça de Queirós, relacione a simbologia subentendida nas seguintes palavras:
(1) Número 3
(2) Corvos
(3) Cofre
(4) Ferro
(5) Ouro
( ) Protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo.
( ) Simboliza a união e o equilíbrio, aparecendo na Santíssima Trindade, etc., sendo recorrente sua presença na literatura e nas artes.
( ) É símbolo de força, resistência.
( ) São entendidos como sinal de morte.
( ) Símbolo de riqueza, luxo e ostentação.
A sequência CORRETA é:
2, 5, 1, 4, 3
1, 5, 2, 3, 4
3, 1, 4, 2, 5
4, 1, 5, 3, 2
5, 2, 1, 4, 3
Leia e analise as afirmações que seguem:
I- O uso social e o reconhecimento de um texto não o identifica como gênero.
II- É somente pelo uso que um tipo de escrita se consagra em determinado tempo, em determinado espaço social.
III- Os textos autobiográficos, ainda que se modifique com o tempo, o texto guarda traços que nos permitem identificá-lo em suas variantes, em diferentes épocas e situações.
IV- Os gêneros de “escrita do eu” (a autobiografia, por exemplo) sofrem uma série de transformações na Modernidade.
V- O caráter íntimo e pessoal do sujeito vai se acentuando à medida que a vida privada vai se desagregando do aspecto exterior e público do homem (como era na Antiguidade).
São corretas as afirmações contidas em:
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
O prefácio modela o romance, segundo os padrões reinantes na prosa acadêmica brasileira.
O prefácio revela o romance como renovação da prosa literária brasileira através de um estilo fragmentário e sintético.
O autor do romance, João Miramar-Oswald, intensifica a crítica à literatura beletrista, já anunciada nas entrelinhas do prefácio.
O pseudo-autor do prefácio, Machado Penumbra, converte-se em personagem, adentrando o romance como "orador ilustre escritor".
O estilo do prefácio é empolado e recheado de clichês, contrastando com o estilo do resto do romance.
Leia o conto a seguir:
Uma Galinha
Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Com base nos elementos estruturais do conto, analise as afirmações que seguem:
I- Apresentação: “Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã”.
II- Complicação: a fuga, a perseguição e o ato de pôr e chocar o ovo.
III- Clímax: momento da decisão de não matar a galinha.
IV- Desfecho: “Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar”
Estão CORRETAS as divisões em:
I, II, III.
I, II, III, IV.
I, II, IV.
II, III, IV.
I, III, IV.
Leia o texto a seguir:
Poema tirado de uma notícia de jornal
Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Com base na leitura do texto, analise as afirmações que seguem:
I- É um poema narrativo, em que o eu lírico se transforma em uma informação jornalística e rotineira de suicídio.
II- A narração em 3ª pessoa é neutra, imparcial e objetiva confrontando a linguagem poética (versos, ritmos poéticos e musicalidade) com o tom prosaico - uma paródia da linguagem jornalística, denunciando o destino violento de pessoas simples.
III- É uma notícia jornalística, sobre um suicídio na Lagoa Rodrigo de Freitas, publicada no jornal O Dia, do Rio de Janeiro.
IV- O personagem João Gostoso não possui características precisas: sem nome próprio (representa uma alegoria de muitos brasileiros que vivem na marginalidade das grandes cidades brasileiras. “Gostoso” é provavelmente, uma alcunha); sem moradia fixa (“morava no morro da Babilônia num barraco sem número”) e sem emprego definido (“carregador de feira livre”) cumpre seu destino para a morte e transforma-se num anonimato de ocorrência policial, virada do avesso pela indeterminação.
V- A espacialização do poema inicialmente se dá com indeterminação: barraco sem número, no entanto, no morro da Babilônia que pode referir-se ao substantivo, “babilônia” (baderna, a falta de organização) ou ao alto espaço da miséria anônima e até, ironicamente ao famoso Jardim Suspenso.
São CORRETAS as afirmações contidas em:
I, II, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, III, V.
II, III, IV, V.
I, III, IV,V.
Com base na leitura do conto O tesouro, de Eça de Queirós, relacione a simbologia subentendida nas seguintes palavras:
(1) Número 3
(2) Corvos
(3) Cofre
(4) Ferro
(5) Ouro
( ) Protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo.
( ) Simboliza a união e o equilíbrio, aparecendo na Santíssima Trindade, etc., sendo recorrente sua presença na literatura e nas artes.
( ) É símbolo de força, resistência.
( ) São entendidos como sinal de morte.
( ) Símbolo de riqueza, luxo e ostentação.
A sequência CORRETA é:
2, 5, 1, 4, 3
1, 5, 2, 3, 4
3, 1, 4, 2, 5
4, 1, 5, 3, 2
5, 2, 1, 4, 3
Leia e analise as afirmações que seguem:
I- O uso social e o reconhecimento de um texto não o identifica como gênero.
II- É somente pelo uso que um tipo de escrita se consagra em determinado tempo, em determinado espaço social.
III- Os textos autobiográficos, ainda que se modifique com o tempo, o texto guarda traços que nos permitem identificá-lo em suas variantes, em diferentes épocas e situações.
IV- Os gêneros de “escrita do eu” (a autobiografia, por exemplo) sofrem uma série de transformações na Modernidade.
V- O caráter íntimo e pessoal do sujeito vai se acentuando à medida que a vida privada vai se desagregando do aspecto exterior e público do homem (como era na Antiguidade).
São corretas as afirmações contidas em:
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
I, II, III.
I, II, III, IV.
I, II, IV.
II, III, IV.
I, III, IV.
Leia o texto a seguir:
Poema tirado de uma notícia de jornal
Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Com base na leitura do texto, analise as afirmações que seguem:
I- É um poema narrativo, em que o eu lírico se transforma em uma informação jornalística e rotineira de suicídio.
II- A narração em 3ª pessoa é neutra, imparcial e objetiva confrontando a linguagem poética (versos, ritmos poéticos e musicalidade) com o tom prosaico - uma paródia da linguagem jornalística, denunciando o destino violento de pessoas simples.
III- É uma notícia jornalística, sobre um suicídio na Lagoa Rodrigo de Freitas, publicada no jornal O Dia, do Rio de Janeiro.
IV- O personagem João Gostoso não possui características precisas: sem nome próprio (representa uma alegoria de muitos brasileiros que vivem na marginalidade das grandes cidades brasileiras. “Gostoso” é provavelmente, uma alcunha); sem moradia fixa (“morava no morro da Babilônia num barraco sem número”) e sem emprego definido (“carregador de feira livre”) cumpre seu destino para a morte e transforma-se num anonimato de ocorrência policial, virada do avesso pela indeterminação.
V- A espacialização do poema inicialmente se dá com indeterminação: barraco sem número, no entanto, no morro da Babilônia que pode referir-se ao substantivo, “babilônia” (baderna, a falta de organização) ou ao alto espaço da miséria anônima e até, ironicamente ao famoso Jardim Suspenso.
São CORRETAS as afirmações contidas em:
I, II, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, III, V.
II, III, IV, V.
I, III, IV,V.
Com base na leitura do conto O tesouro, de Eça de Queirós, relacione a simbologia subentendida nas seguintes palavras:
(1) Número 3
(2) Corvos
(3) Cofre
(4) Ferro
(5) Ouro
( ) Protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo.
( ) Simboliza a união e o equilíbrio, aparecendo na Santíssima Trindade, etc., sendo recorrente sua presença na literatura e nas artes.
( ) É símbolo de força, resistência.
( ) São entendidos como sinal de morte.
( ) Símbolo de riqueza, luxo e ostentação.
A sequência CORRETA é:
2, 5, 1, 4, 3
1, 5, 2, 3, 4
3, 1, 4, 2, 5
4, 1, 5, 3, 2
5, 2, 1, 4, 3
Leia e analise as afirmações que seguem:
I- O uso social e o reconhecimento de um texto não o identifica como gênero.
II- É somente pelo uso que um tipo de escrita se consagra em determinado tempo, em determinado espaço social.
III- Os textos autobiográficos, ainda que se modifique com o tempo, o texto guarda traços que nos permitem identificá-lo em suas variantes, em diferentes épocas e situações.
IV- Os gêneros de “escrita do eu” (a autobiografia, por exemplo) sofrem uma série de transformações na Modernidade.
V- O caráter íntimo e pessoal do sujeito vai se acentuando à medida que a vida privada vai se desagregando do aspecto exterior e público do homem (como era na Antiguidade).
São corretas as afirmações contidas em:
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
I, II, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, III, V.
II, III, IV, V.
I, III, IV,V.
Com base na leitura do conto O tesouro, de Eça de Queirós, relacione a simbologia subentendida nas seguintes palavras:
(1) Número 3
(2) Corvos
(3) Cofre
(4) Ferro
(5) Ouro
( ) Protege, preserva, permite que o seu conteúdo permaneça intocado ao longo do tempo.
( ) Simboliza a união e o equilíbrio, aparecendo na Santíssima Trindade, etc., sendo recorrente sua presença na literatura e nas artes.
( ) É símbolo de força, resistência.
( ) São entendidos como sinal de morte.
( ) Símbolo de riqueza, luxo e ostentação.
A sequência CORRETA é:
2, 5, 1, 4, 3
1, 5, 2, 3, 4
3, 1, 4, 2, 5
4, 1, 5, 3, 2
5, 2, 1, 4, 3
Leia e analise as afirmações que seguem:
I- O uso social e o reconhecimento de um texto não o identifica como gênero.
II- É somente pelo uso que um tipo de escrita se consagra em determinado tempo, em determinado espaço social.
III- Os textos autobiográficos, ainda que se modifique com o tempo, o texto guarda traços que nos permitem identificá-lo em suas variantes, em diferentes épocas e situações.
IV- Os gêneros de “escrita do eu” (a autobiografia, por exemplo) sofrem uma série de transformações na Modernidade.
V- O caráter íntimo e pessoal do sujeito vai se acentuando à medida que a vida privada vai se desagregando do aspecto exterior e público do homem (como era na Antiguidade).
São corretas as afirmações contidas em:
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
2, 5, 1, 4, 3
1, 5, 2, 3, 4
3, 1, 4, 2, 5
4, 1, 5, 3, 2
5, 2, 1, 4, 3
Leia e analise as afirmações que seguem:
I- O uso social e o reconhecimento de um texto não o identifica como gênero.
II- É somente pelo uso que um tipo de escrita se consagra em determinado tempo, em determinado espaço social.
III- Os textos autobiográficos, ainda que se modifique com o tempo, o texto guarda traços que nos permitem identificá-lo em suas variantes, em diferentes épocas e situações.
IV- Os gêneros de “escrita do eu” (a autobiografia, por exemplo) sofrem uma série de transformações na Modernidade.
V- O caráter íntimo e pessoal do sujeito vai se acentuando à medida que a vida privada vai se desagregando do aspecto exterior e público do homem (como era na Antiguidade).
São corretas as afirmações contidas em:
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
I, III, IV, V.
II, III, IV, V.
I, II, III, IV.
I, II, IV, V.
I, II, III, V.
Partindo do pressuposto de que, no relato de memórias, há um sujeito que ao relatar sua vida vai construindo a sua subjetividade, ao mesmo tempo que vai interagindo com outros sujeitos; para o profissional de Letras, a leitura de romances memorialistas da literatura brasileira deverá nos permitir:
I- Verificar as relações que se estabelecem entre o romance memorialista e o contexto sociocultural de sua produção.
II- Identificar se as marcas do espaço e do tempo social se inscrevem no relato de uma história pessoal.
III- Perceber que as memórias representam os sentimentos e emoções reais do autor, tornando-se um texto totalmente não ficcional.
IV- Reconhecer traços estilísticos nos romances memorialistas que permanecem por mais de um século na produção literária brasileira.
São CORRETAS as alternativas presentes apenas em:
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
II, III.
I, III.
I, II, IV.
II, III, IV.
II, IV.
Leia o texto a seguir.
"Quando a alma vibra, atormentada..."
Tremi de emoção ao ver essas palavras impressas. E lá estava o meu nome, que pela primeira vez eu via em letra de forma. O jornal era "O Itapemirim", órgão oficial do "Grêmio Domingos Martins", dos alunos do Colégio Pedro Palácios, de Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo.
O professor de Português passara uma composição: "A lágrima". Não tive dúvidas: peguei a pena e me pus a dizer coisas sublimes. Ganhei 10, e ainda por cima a composição foi publicada no jornalzinho do colégio. Não era para menos:
"Quando a alma vibra, atormentada, às pulsações de um coração amargurado pelo peso da desgraça, este, numa explosão irremediável, num desabafo sincero de infortúnios, angústias e mágoas indefiníveis, externa-se, oprimido, por uma gota de água ardente como o desejo e consoladora como a esperança; e esta pérola de amargura arrebatada pela dor ao oceano tumultuoso da alma dilacerada é a própria essência do sofrimento: é a lágrima".
É claro que eu não parava aí. Vêm, depois, outras belezas; eu chamo a lágrima de "traidora inconsciente dos segredos d'alma", descubro que ela "amolece os corações mais duros" e também (o que é mais estranho) "endurece os corações mais moles". E acabo com certo exagero dizendo que ela foi "sempre, através da História, a realizadora dos maiores empreendimentos, a salvadora miraculosa de cidades e nações, talismã encantado de vingança e crime, de brandura e perdão".
Sim, eu era um pouco exagerado; hoje não me arriscaria a afirmar tantas coisas. Mas o importante é que minha composição abafara e tanto que não faltou um colega despeitado que pusesse em dúvida a sua autoria: eu devia ter copiado aquilo de algum almanaque. (Ai de ti, Copacabana, Rubem Braga)
Nesse trecho de crônica, ao se referir ao estilo das suas composições de estudante, Rubem Braga deixa sugerido que, em seu ofício de cronista,
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
veio intensificar as características poéticas e retóricas que lhe garantiram o sucesso quando jovem autor, ao tempo da primeira publicação.
valeu-se do aprendizado escolar para vir a dominar uma linguagem que, adaptada ao modelo da crônica, preservaria o lirismo da adolescência.
distanciou-se do tipo de retórica que marcava aquelas composições, em decorrência da consciência crítica e da ironia de adulto.
conservou a primitiva atração pelas hipérboles, ao mesmo tempo em que já não alimenta a mesma ilusão quanto ao prestígio das palavras impressas.
perdeu a sinceridade que marcava seus escritos de estudante, quando expressava, de modo mais despojado, os sentimentos mais sublimes.
Leia o texto a seguir:
Facultativo
Estatuto dos Funcionários, artigo 240: "O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público" (com maiúsculas).
Então é feriado, raciocina o escriturário que, justamente, tem um "programa" na pauta para essas emergências. Não, responde-lhe o Governo, que tem o programa de trabalhar; é consagrado, mas não é feriado.
É, não é, e o dia se passou na dureza, sem ponto facultativo. Saberão os groenlandeses o que seja ponto facultativo? (Os brasileiros sabem) É descanso obrigatório no duro. João Brandão, o de alma virginal, não entendia assim, e lá um dia em que o Departamento Meteorológico anunciava: "céu azul, praia, ponto facultativo", não lhe apetecendo a casa nem as atividades lúdicas, deliberou usar de sua "faculdade" de assinar o ponto no Instituto Nacional da Goiaba, que, como é do domínio público, estuda as causas da inexistência dessa matéria-prima na composição das goiabadas.
Encontrou cerradas as grandes portas de bronze, ouro e pórfiro (*), e nenhum sinal de vida nos arredores. (...) Tentou forçar as portas, mas as portas mantiveram-se surdas e nada facultativas. (...) João decidiu-se a penetrar no edifício, galgando-lhe a fachada e utilizando a vidraça que os serventes sempre deixam aberta. E começava a fazê-lo com a teimosia calma dos Brandões quando um vigia brotou da grama e puxou-o pela perna.
- Desce daí, moço. Então não está vendo que é dia de descansar? (...) Então não sabe o que quer dizer facultativo?
João pensava saber, mas nesse momento teve a intuição de que o verdadeiro sentido das palavras não está no dicionário; está na vida, no uso que delas fazemos. Pensou na Constituição e nos milhares de leis que declaram obrigatórias milhares de coisas, e essas coisas, na prática, são facultativas ou inexistentes. Retirou-se, digno, e foi decifrar palavras cruzadas.
(*) Pórfiro = tipo de rocha; pedra cristalina.
(Carlos Drummond de Andrade, Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967, pp. 758-759)
No último parágrafo do texto, o autor parte do caso ocorrido com João Brandão para formular a ideia geral de que
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
as palavras, quando têm vários sentidos possíveis no dicionário, quase sempre produzem ambiguidades.
as palavras cruzadas favorecem a compreensão do preciso sentido que as palavras ganham com o uso prático.
a diferença entre o que deve ser facultativo e o que deve ser obrigatório é uma questão menor, que não deve provocar discussão.
as imprecisões da linguagem verbal têm como consequência a inaplicabilidade da maioria das leis
pode haver falta de correspondência entre o sentido próprio das palavras e o que ganham nas situações em que são empregadas.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença d serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
Neste fragmento, assinale a alternativa que melhor representa o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.
Leia os trechos:
A- Na primeira ocasião Leonardo quis recorrer a uma nova declaração; Luizinha porém fez o processo sumário, aceitando a declaração de há tantos anos. Sem que os vissem, viam-se os dois muitas vezes, e dispunham seus negócios”. (2ª parte - Cap. XXV - p. 208)
B- Ao iniciar a última parte do livro com os dizeres Conclusão Feliz, a expressão nos remete a enunciados do tipo:“... e foram felizes para sempre”, num sutil intertexto.
C- ¾ Padre amigo do fado... O velho defronte redobrou a risada”. (1ª parte Cap. XI - p. 48)
“Leonardo lançou-lhe os olhos e a custo conteve o riso”. (1ª parte - Cap. XVIII - p. 82)
“Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai bem...” (2ª parte - Cap. XXV - p. 209)
“A comadre vendo-os sorriu-se, e D. Maria, fazendo sem dúvida a respeito do que estavam eles falando o mesmo juízo que nós, disse enternecida:” (2ª parte - Cap. V - p. 125)
A partir da leitura dos trechos e dos estudos realizados até o momento, leia e analise as seguintes afirmativas:
I- No texto A, faz-se referência ao discurso jurídico.
II- O texto B exemplifica o final romântico da obra.
III- Os fragmentos de C demonstram o clima de comicidade da obra.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é(são):
2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.
evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.
reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.
opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do Romantismo.
revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.